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Imagem: Bia Donelli |
As propagandas para o dia das mães já estão no ar e o apelo consumista, nem se fala. O fato é que o dia das mães está aí e é inevitável não falar dela- a mãe.
Gente, quem disse que ser mãe é padecer no paraíso? Deve ser parente da Amélia (aquela que era mulher de verdade). Vamos combinar que a gente padece e muito. Quando vejo uma amiga grávida sempre comento: "Aproveita enquanto ele(o bebê) está aí dentro, pois depois que sair.....minha filha, nunca mais terás sossego na vida. Primeiro é aquele trabalho braçal todo: dar de mamar, fazer arrotar, trocar a fralda, fazer dormir, arrumar a bagunça e quando pensa em descansar, a criança acorda e começa tudo de novo. De três em três horas...um paraíso...só se for de olheiras. Aí começa a caminhar e não se tem mais sossego, a gente se torna a sombra da criaturinha. Temos que estar um passo à frente e, mesmo assim, eles conseguem nos driblar e aprontar alguma. Aí, saímos desesperadas rumo ao hospital com uma testa sangrando, um milho de pipoca no nariz ou o ancinho atravessado no pé. Paraíso!
Depois vem a escolinha, o colégio, os coleguinhas, briguinha com os coleguinhas, o segundo grau, a insegurança da adolescência (nem vou falar da adolescência, que merece um post só para isso),,os conflitos de opiniões, o choque de gerações(inevitável) e a maturidade (será?), onde acham que sabem mais do que a gente da vida. Vê se pode!!!
Não, não vão pensar que eu não gosto de ser mãe. Pelo contrário, é tudo que sempre quis. Mas não aguento essa estória de "paraíso". É muito difícil ser mãe. Filho não vem com manual de instruções e cada dia é uma surpresa, o mundo muda muito e as tuas referências já estão ultrapassadas. As gerações de hoje estão tão independentes, que tu fica pensando: "cadê a criança que tava aqui?".
Não fica aquela sensação de que poderia ter sido uma mãe melhor? Que teria feito diferente se fosse hoje?
Um dia, li um artigo da jornalista e escritora Danuza Leão em uma revista e guardei pois me tocou fundo. Talvez por eu ser exatamente o contrário do que ela fala ali e, recentemente, lendo uma entrevista dela no jornal, fui buscar a página arrancada da revista e reli. Pensei em como eu gostaria de ter aquele desprendimento e de me controlar para não ser aquela mãe que cobra e sufoca, pois, talvez, seja esse o nosso erro e eles, os filhos, queiram uma mãe mais solta, mais feliz, mais preocupada com ela e não com eles, mas presente quando eles chamam.
Abaixo, reproduzo o artigo:
"Ah,
ser mãe é difícil; não existe filho que não tenha dito um dia - ou pelo menos
pensado - "não agüento minha mãe", e o pior: com toda razão. Há
coisas a ser evitadas para que eles nos odeiem o menos possível.
Toda mãe tem
vontade de telefonar para o filho pelo menos duas vezes por dia. Meu conselho:
não telefone. Deixe seu filho em paz, mas esteja sempre à disposição, a
qualquer hora do dia ou da noite, para ouvi-lo reclamar do trabalho, da mulher,
do filho que ele descobriu fumando um cigarro ou coisas do gênero. Quando ele
disser que vai viajar, não pergunte jamais - jamais - o dia em que voltará. Se
não resistiu e perguntou, não telefone para ele no dia da chegada, antes de ele
ligar, ou corre o risco de ser vítima de alguma atrocidade, e todas somos; ou
não?
A mãe ideal é aquela que não dá palpite sobre nada, a não ser quando consultada
e, mesmo assim, tomando o maior cuidado com o que vai falar. Se ele se queixar
da mulher, não aproveite para dizer tudo que está atravessado na sua garganta
desde o dia em que ele te abandonou por ela. Ouça tudo, mas fique muda, porque
eles vão fazer as pazes e vai sobrar para quem?
Não tente seduzir seu filho com
propostas do tipo: "Domingo vou fazer aquele cozido que você adora, quer
vir almoçar?" Se quiser ser mesmo uma mãe maravilhosa, mande levar na casa
dele aquele bolo de laranja feito no tabuleiro, com cobertura de açúcar e
limão, mas não telefone para saber se ele gostou. Quando ele ligar - se ligar -
para dizer que adorou, não peça o tabuleiro de volta; esse, nunca mais.
Tem
hora pra tudo na vida, inclusive - e principalmente - para mãe. Dê um tempo:
ninguém suporta ser tão fundamental à felicidade do outro, como as mães
costumam deixar claro. É verdade, mas nem todas as verdades precisam ser ditas.
Quer saber o que é uma mãe confortável? É aquela que tem vida própria: ou joga
pôquer e ninguém vai tirá-la da rodinha de sábado, ou tem um namorado que não
vai deixar, nem morta, para cuidar dos netos, ou tem um gato que não pode ficar
sozinho. É claro que ele vai reclamar que não conta com você para nada; vai ser
acusada de ser egoísta, mas, se pudesse escolher entre uma mãe que sufoca e a
que vive e deixa viver, sabe qual ia preferir? Pois é isso mesmo. Goste dele
mais do que tudo neste mundo, mas não diga nada. E não fique triste ao
constatar que ele se importa mais com seus próprios filhos do que com você: a
vida é assim, e o amor de cima para baixo - de mãe para filho - é muito maior
do que aquele de baixo para cima - de filho para mãe.
Ele também vai ficar
triste quando perceber um dia, já avô, que seus filhos gostam muito mais dos
seus próprios filhos do que dele, o que é natural. E isso não é bom nem ruim,
nem justo nem injusto: apenas é....."
Eu ainda não consegui, mas busco o aprimoramento e o equilíbrio enquanto continuo me preocupando, ligando e pedindo o tabuleiro de volta.